Apesar da turbulência e das especulações, várias delas com um ar racista, na imprensa e no contexto político no Chile sobre a chegada de Machi* Francisca Linconao na Bolívia, ela esteve aqui na semana passada, simplesmente porque tem o direito de viajar para onde queira, depois de ter sido absolvida pela segunda vez no caso Luchsinger-Mackay.
Francisca Linconao, Machi da Lof** Rahue, em Temuco, concordou em nos dar um testemunho sobre sua vida nos últimos anos. A vida de uma mulher mapuche, autoridade espiritual de sua comunidade, na qual podemos ver refletida de muitas maneiras a vida e a luta na Bolívia de mulheres em comunidades indígenas que estão sendo ameaçadas em sua própria existência por atividades extrativistas, expansão de monoculturas, projetos de mega infraestrutura, mineração ou petroleiros.
Machi Francisca, foi a primeira mulher mapuche a interpor e ganhar um Recurso de Proteção em 2009, fazendo cumprir pela primeira vez no Chile o tratado 169.
Para muitxs de nós, o nome de Francisca Linconao, foi desconhecido até vários anos depois, quando a imprensa divulgou as notícias sobre sua primeira detenção em janeiro de 2013 pelo caso da morte do casal Luchsinger-Mackay.
Antes da mídia corporativa e do estado chileno através da Lei Antiterrorista, vincularam e acusaram Machi Linconao e outrxs 10 membrxs da comunidade mapuche pela morte dos dois latifundiários, a luta mais subterrânea de Francisca Linconao se desenvolveu em Temuco, quando ela decidiu proteger as plantas medicinais e os Menokos*** de sua lof, interpondo um Recurso de Proteção contra a Forestal Palermo, representada por Alejandro Taladriz.
Francisca Linconao é Machi Tralkan, o que significa que seus poderes de cura e tratamento estão ligados ao trovão. Sua vitória contra uma florestal que realizava o corte ilegal de árvores, plantio de espécies nocivas como pinheiros e eucaliptos, que afetaram as florestas nativas e os mananciais da comunidade, não é apenas a vitória de seus conhecimentos de curandeira frente ao poder das empresas florestais, mas uma das chaves, nos diz a Machi, para entender a subsequente perseguição que continua enfrentando.
Ela, que ganhou um recurso de proteção contra uma florestal, e agora, por decisão do poder judiciário e pressão da família Luchsinger, aos 61 anos, tendo sida absolvida duas vezes, deverá recomeçar pela terceira vez o processo legal pelo mesmo caso.
Comunidades mapuche: sob a Lei Antiterrorista e as montagens judiciais
Julgar alguém mais de uma vez pelo mesmo caso, é algo que não é permitido (ainda) pelas leis bolivianas. No entanto, as comunidades mapuche que vivem constantemente perseguidas pela Lei Antiterrorista, -uma das piores heranças da ditadura de Pinochet-, são vulneráveis a essas reveses das ações legais do estado.
A continuidade do neocolonialismo judicial se expressa na aplicação da Lei Antiterrorista axs detidxs mapuches, que permite a “prisão preventiva”, e, até recentemente, a prisão de menores de idade nos casos que o estado considera estar destinados a gerar “terror” para a população. As massivas greves de fome protagonizadas por presxs políticxs mapuche de 2010 a 2011, permitiram que fossem modificadas em alguns elementos.
Xs acusadxs pelo caso Luchsinger-Mackay, e portanto Machi Francisca Linconao, são julgadxs pela Lei Antiterrorista, com base nas montagens judiciais, como a mesma Machi nos narra em seu testemunho, bem como em outros casos seguidos e revelados sobre tudo pelos meios alternativos em Wallmapu. No entanto, casos como o de Brandon Hernández Huentecol, em que o jovem mapuche de 17 anos, foi baleado por 40 tiros pelas costas por um carabinero chileno, não é considerado pela justiça como um ato para “gerar terror”. Mas, então, o que é que vivem dezenas de comunidades mapuche quando militarizam suas regiões, quando forças de segurança disparam impunemente contras xs membrxs da comunidade ou quando se reprime violentamente com brutalidade crianças e mulheres?
A partir de como se vive julgadx pela Lei Antiterrorista, dos mananciais e plantas medicinais da Lof Rahue e sua defesa, Machi Francisca Linconao nos fala mais amplamente, em sua breve passagem pela Bolívia, como experiências no próprio núcleo do colonialismo e o avanço capitalista nos territórios.
Que se difundam suas palavras que chegam com a força do Tralkan****.
* principal figura médica, religiosa, conselheira e protetora do povo Mapuche
** é a forma básica de organização social do povo Mapuche
*** fontes de água em mapudungun
**** trovão em mapudungun
Amigxs, companheirxs e familiares: Queremos comunicar a vocês que nosso companheiro Jaime (Gato) está passando por uma situação complexa. Neste momento ele se encontra privado de liberdade, faz quase um mês, na prisão de Mocoví, Trinidad (Capital do departamento de Beni) Bolívia.
Estamos pedindo a solidariedade de cada um que queira fazer parte deste processo que nosso companheiro enfrenta. Atualmente há um advogado, mas como todxs sabem em processo judicial se requer uma grande quantidade de dinheiro para custear todos os gastos da papelada, burocracia e porque não dizer também, a corrupção da (in)justiça que enfrentamos.
É por isso que apelamos para todas as redes de solidariedade possíveis já que neste momento todas as mãos e corações nos servem, seja enviando amor, força, orando ou como possam ajudar, será bem vindo e muito bem recebido. Peço também que fiquem atentos, pois estaremos organizando rifas e outras atividades solidárias para arrecadar o dinheiro necessário para nosso irmão, amigo e companheiro regressar a Chile.
Quem quiser deixar uma mensagem de apoio e solidariedade poderá fazer por aqui nos comentários desta publicação. Eu ficarei feliz de levar todo carinho de seus amigxs e companheiros que gostam dele e o apoiam. Agradeço desde já. Se alguém puder ajudar economicamente, deixo também um numero de conta bancária. Como já disse mais a cima, toda ajuda será bem-vinda.
Atentamente, Constanza Mardones Espinoza (irmã) de Jaime Mardones Espinoza.
Nombre del titular: Maria Monica Espinoza Navarrete (Mamá)
Nro cta0.0097 0604405
Banco: scotiabank
Rut: 8.342.112-6
Correo: monicaespinozan[arroba]gmail.com
VIA WESTERN UNION:
Constanza Mardones Espinoza
17.919.817-7
Trinidad- Bolivia
A luta contra o especismo representa um enfrentamento contra a normalidade da sociedade que aceita os comportamentos impostos, e nos “ensina” a ver os animais de outras espécies com insignificância e como simples mercadorias. À medida que crescemos vão nos domesticando e a dominação em relação aos animais é perpetuada enquanto nos insensibilizamos. O capital faz o mesmo conosco, nos domestica, nos vê como mão de obra barata, tenta controlar nossas vidas, quer que sejamos escravxs submissxs e obedientes.
A luta contra a autoridade e a dominação também transcende a uma ofensiva em que, se lutamos pelos animais de outras espécies, devemos nos conectar com outras lutas, pela terra, pelos povos indígenas, contra o patriarcado, contra o capital, e outras lutas que buscam dignificar o modo de vida, porque há semelhança no fundo do problema e é necessário não se especializar, pelo contrário, criar laços fortes nos quais identificamos toda forma de dominação para destruí-la.
Faremos uma crítica ao veganismo burguês, falaremos das lutas animalistas e projetaremos alguns vídeos relacionados com a conversa.
Xs esperamos esta quinta-feira 16 às 19hs na biblioteca Antiautoritaria Flecha Negra