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Textos com Etiquetas ‘comunicado’

Korydallos, Grécia – Carta do Comitê de Luta dxs Presxs ao Ministério da Justiça

27, novembro, 2017 Sem comentários

09 de novembro de 2017

AO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (Sr. Stavros Kontonis)

Ao Secretário Geral da política anti-crime, Sr. Eftychios Fytrakis

Ao Coordenador Geral das Instalações Correcionais Sr. Pavlos Doulamis.

No contexto de nossa mobilização na prisão contra o novo projeto de lei correcional, foi criado um comitê legal que ampliará nossas vozes para além dos muros da prisão. Ao mesmo tempo, o comitê nos manterá informadxs sobre os desenrolamentos relacionados à a nova lei correcional.

Com o anúncio atual, nomeamos os seguintes advogados, o Sr. George Kakarnias, o Sr. Athanasios Kambayiannis, o Sr. Demetris Katsaris e o Sr. Konstantinos Papadakis, como os membros do comitê que nos representarão e serão informados pelos órgãos institucionais do ministério, com respeito às ordenanças do novo código correcional.

Ao mesmo tempo, pedimos que este comitê seja convidado para a sessão parlamentar que está destinada a discutir o código correcional antes da sua apresentação para a votação, no contexto da possibilidade, prevista pela lei, para a audiência de pessoas e agências extraparlamentares.

Comitê de Luta dxs Presxs – Prisão de Korydallos (prisão para mulheres e homens), 09 de novembro de 2017.

[Tradução a partir da tradução de Sin Banderas Ni Fronteras]

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Viña Del Mar, Chile – Bloqueio de rua no dia das eleições

26, novembro, 2017 Sem comentários

Recebido via correio eletrônico dia 25/11, traduzido e difundido o comunicado/grito de raiva dxs companheirxs que realizaram o bloqueio de rua dia 19 de novembro de 2017 na cidade de Viña del Mar, V Região do território dominado pelo estado $hileno no contexto do dia do primeiro turno da votação das eleições presidenciais.

*********

Cada floresta cortada, cada lago e rio que seca, cada colina devastada, cada espécie que foi extinta, cada manx que cai no crack, que são reprimidxs e atacadxs pela polícia e que atravessam e vivem o abismo carcerário, cada Peñi1 e Lamgien2 atacadx, torturadx e muertx em Wallmapu3, cada criança abusada por um padre, cada criança violada e morta no Sename4
Cada uma, e muitas mais destas misérias que são endossadas pela violência e pela própria existência do estado, são também as misérias que endossam aqueles que acreditam e perpetuam a democracia.

Porque os cidadãos não se sensibilizam?
Porque os cidadãos não se importam?
Porque os cidadãos se recusam a ver?

E diante desta fúnebre e podre paisagem paramos e enfrentamos a submissão e indiferença cidadã e a sua covarde e cômoda desconexão com a realidade, para reapropriarmos de nossas vidas e de tudo o que nos roubaram.

Não nos submeteremos a nada nem ninguém,
Contra o estado em todas as suas formas
Contra todx líder, hierarquia e autoridade

NOSSA ÚNICA ELEIÇÃO É A VIOLÊNCIA ORGANIZADA PELA LIBERTAÇÃO TOTAL

*********

  1. Irmão em mapudungum, idioma mapuche.
  2. Irmã em mapudungum, idioma mapuche.
  3. Wallamapu é o nome dado ao território ancestral Mapuche.
  4. Servicio Nacional de Menores, asquerosa instituição prisional para menores no $hile.
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Chéquia – Texto do companheiro anarquista perseguido da Anti-Fenix, Lukáš Borl

20, novembro, 2017 Sem comentários

via 325

Todo o poder para a imaginação?

Quando as grandes greves e xs trabalhadorxs e estudantes ocorreram na França em 1968, um dos lemas daquela época foi “Todo o poder para a imaginação”. A polícia e os tribunais checos agora têm sua própria interpretação. Eles afirmam sua autoridade através da promoção de sua própria imaginação.

Quando a polícia queria o mandado de prisão sobre mim, seus motivos alegados para isso eram declarações especulativas e um monte de besteira aleatória. Obviamente, foi o suficiente para obter o mandado. É mesmo assustador, quão poderosa é a sua imaginação.

Foi escrito em certos documentos: “Lukáš B. não possui nenhuma residência permanente na Chéquia. Com base na investigação atual, descobriu-se que, no período de outubro de 2015 até dezembro de 2015, ele estava se movendo no território da república eslovaca no entorno da cidade de Žilina. Então, em abril/maio, ele estava se mudando para a Eslovênia nos arredores da cidade de Ljubljana.

Daquele lugar eu mudei muito provavelmente para a Holanda, acompanhado por (o nome da pessoa). Então, descobriu-se que, no início do verão (junho de 2016), Lukáš Borl participou do encontro secreto dos militantes defensores dos direitos dos animais, a frente da libertação animal (ALF), que ocorreu na França, no arredores de Marselha, sob o nome de RAT ATTACK. A partir da comunicação descoberta, é claro que Lukáš B. planeja viajar pela costa da Itália, da França até a fronteira da Bélgica e Holanda, onde ele deve ter um emprego – fotografando para a revista sobre migração. Cantos especiais da pessoa procurada: cabelos castanhos, barba, 8-10 dreads na cabeça, 15-20cm de comprimento.”

Que tipo de investigação poderia levar a escrever algo tão sem sentido? Em toda essa construção, há apenas uma declaração verdadeira – naquela época eu realmente não tinha uma residência permanente na Chéquia. Que tipo de comunicação a polícia “descobriu”, se eles deduzem declarações absolutamente falsas? Aparentemente, toda a investigação e a comunicação “descoberta” ocorreu apenas nas cabeças dos policiais. Apenas invenção casual, como podemos chamar. Claro, a polícia vai pensar em um nome melhor para o que eles fazem, simplesmente porque eles admitem que sua autoridade se baseia em incapacidade de pensar e investigar, não é tática.

Lukáš Borl

Brasil – Operação Érebo a terra se move. Agitações e reflexões anárquicas o vento sopra.

19, novembro, 2017 Sem comentários

via Tormentas de Fogo

Operação Érebo a terra se move.

Agitações e reflexões anárquicas o vento sopra.

No amanhecer do dia 25 de outubro de 2017 o tempo fechou para os/as anarquistas de Porto Alegre. A policia Civil com a Operação Érebo pôs em marcha invasões e assaltos televisionados pela mídia local e transmitidos pelos autofalantes do sistema em volume máximo.

A partir desta reação policial, do show e escrache midiático, e da agitação na órbita anarquista mil e uma necessidades, urgências, ideias, impulsos e sentimentos nos atravessaram. Desta reflexão nasceu esta vontade de comunicação. Apontamos nossa determinação contra o inimigo e firmamos o passo com quem faz viver a anarquia em suas posições e práticas.

Nossa natural tendência ao caos.

Somos, existimos e agimos para além do Estado, as leis e a democracia. Procuramos e espalhamos autonomia, mas sabemos que ela não se consegue negociando com o poder1.

Herdeiras/os das lutas pela liberdade e pela terra, dos guerreiros que ainda nos ensinam que se pode existir de várias maneiras para além da sociedade imposta. Sentimos uma inconformidade que persiste e insiste.

Olhando desde esta beira do rio, a democracia é só mais uma forma (atual) em que a civilização domina, mata e tenta apagar formas de existência que vazam da ordem militar e da obediência cega. Ainda mais, essa democracia que se apresenta como “o” valor de moda. E muitos caem cegos, ou ofuscam os olhos pelo seu brilho. Mas quem ama ser livre sabe que é só uma forma de governar e a vida é ingovernável, como os rios que mudam seu andar, como os animais que atacam seus domadores, como os povos que não se “vendem” ao trabalho escravo da sociedade ocidental. Assim a democracia é um ideal incompatível com quem não se deixa governar.

Suas máximas, os direitos, são ferramentas de colonização e de um humanismo que ainda distingue humanos de primeira, segunda, terceira, e mais categorias. Pode alguém defender isso?

Suas punições, as leis, são correntes que alguns adoram, mas que punem e marcam a quem tendo fome rouba e não mendiga.

A negociação com esse mundo é impossível, nossa relação com ele só pode ser o antagonismo2.

Tentam dominar e não podemos deixar de lutar contra isso, sem trégua. Nessa tendência instintiva à liberdade sem regras nem ordem, reconhecemo-nos no caos da anarquia.

A busca por anarquia é por si só um desafio ao poder. Todas as perspectivas da anarquia se propõem a desmantelar as instituições do poder. Podem ter desencontros de como fazê-lo, mas todo anarquista quer os Estados, corporações, suas instituições e valores em ruínas. Disto acreditamos não estarmos enganados. Desta forma o desejo pela anarquia na democracia é por si criminoso.

Não estando no código penal, o anarquismo e a afinidade com ele não são efetivamente crimes. O que nos dá uma margem de ação e deixa mais liberdade para se identificar com ele. Mas a corda dessa liberdade não é muito cumprida.

A chave que desfez o mistério. Plantas exóticas e agitação anárquica.

A ideia de que seres alienígenas chegam trazendo o “mal” é um mecanismo de controle e repressão antigo. Desde a Europa, vários compas anarquistas, expulsos ou foragidos, chegaram neste continente. Aqui eles foram detectados e catalogados como plantas exóticas, inços de ideias e ações perigosas.

Na última década do século XIX os senhores do poder já expulsavam anarquistas considerados nocivos para a “paz social”. Ou seja, seres indomáveis, feras que não se submetiam às leis e à ordem que garantem a exploração. Recordamos de Giuseppe Gallini que junto a outros companheiros agitadores na cidade de São Paulo foram presos e expulsos. Lembramos também de José Saul, expulso da cidade de Pelotas por ser um agitador anarquista. Mesmo destino tiveram vários outros compas anárquicos.

Em 1907, em resposta a crescente agitação social (revoltas, greves, organizações autônomas dos trabalhadores) e a também crescente presença anarquista, o Estado brasileiro endurece as políticas de expulsão contra os indesejáveis. Costurando uma nova fantasia jurídica para seus bailes repressivos, a lei Adolpho Gordo.

Quando os governantes, juízes e policiais afirmam, desde 1800 até agora, que os anarquistas somos plantas exóticas, propiciam sentimentos de xenofobia, e também constroem a imagem de uma suposta “passividade” nativa.

As políticas de expulsão e escrache contra aqueles que trazem a “teoria do caos”3 era e continua sendo um mecanismo de dispersão de encontros combativos. Segundo estas, a agitação anárquica seria exótica e poderia ser arrancada jogando os inços fora do Jardim.

Uma coisa é certa, os e as anarquistas chegaram de barco e continuam chegando por várias trilhas, no entanto, o impulso anárquico e o combate a dominação4 estão nestas terras desde tempos imemoráveis. O desejo de liberdade não tem época, pátria nem fronteiras e, anárquicos como somos, não reconhecemos a repartição do mundo em países, em Estados. A debilidade que teríamos ao pensar o mundo dividido em linhas artificiais nos deixaria doentes, sem a capacidade de reconhecer a terra com seus limites próprios e mutáveis, montanhas, rios, florestas, quebradas.

Assim, também, não reconhecemos que nossos companheiros sejam pertencentes a um ou outro pais, nós somos anarquistas e companheiros pela afinidade que temos em oposição ao controle e dominação. Não temos pátrias nem bandeiras e estamos longe de nos deixar nortear por sentimentos nacionalistas que só paqueram com o fascismo. O mundo é nosso porque com ele somos, e pela terra que habitamos sentimos nojo do progresso.

Além do mais, as ações recolhidas nas Cronologias da Confrontação Anárquica5 estão muito longe de serem alienígenas ou desorientadas dentro do contexto atual do território controlado pelo Estado brasileiro, como podemos constatar.

Os partidos políticos PSDB, PSB, PSD, DEM receberam visitas anárquicas6. O agronegócio, devastador da terra e dos povos, foi atacado com incêndio ao Banco Bradesco, a destruição de mudas de eucalipto e também barricadas incendiarias e bloqueios de estradas em território em luta com a civilização.

Também a militarização da vida foi nitidamente rechaçada com o ataque da Galera do Pixo do Triangulo CAV do Terror ao monumento da louvação da guerra nos arcos da Redenção, com a parcial destruição pelo Grupo de Hostilidades Contra Dominação do monumento do Batalhão de Suez/ONU avôs dos que hoje militarizam o Haiti, e com o ataque dos Vândalos Selvagens Antiautoritários que contribuiu para a retirada do tanque de guerra exposto como monumento na avenida Ipiranga.

Várias dessas ações foram, intuímos, incompreensíveis para a lógica da competição pelo poder. Eram ações que nada pediam nem demandavam. Só agrediam à dominação. Até que apareceu a chave que desfez o mistério (segundo o telejornal Fantástico), as Cronologias da Confrontação Anárquica e a publicação Bem-vindo ao Inferno.

Maldita literatura anarquista!

Os livros que estão na mira da polícia, além de difundir uma idéia, falam de ações reais. Eles coletam e apresentam várias peripécias e ousadias de alguns indomáveis. Vários bandos que bateram contra o que sentiam que oprime. Livros que um amante do controle e da submissão jamais gostaria de ver difundidos. É por isso que estes livros são livros abomináveis para as autoridades, mas também por isso, são livros de alta consistência insubmissa.

Na caminhada anárquica, vários exemplos deste tipo de perseguição literária dentro das democracias vem nos ensinando que escrever sobre a confrontação é tomado como uma afronta pelo poder. A publicação O Prazer Armado, escrito por Alfredo Maria Bonanno, provocou sua detenção na Itália e anos depois sua edição e impressão foi uma das “provas” de acusação contra o companheiro anarquista Spyros Mandylas e a Okupa Nadir na Grécia. No mesmo continente, na Espanha, o livro Contra a democracia foi usado como prova de uma suposta participação em uma organização catalogada como terrorista pelo Estado espanhol, que teve como resultado várias invasões, detenções e operações contra os compas, as quais nos permitiram solidarizar com elas, nos aproximar e nos fortalecer na procura de liberdade e na certeza de que estamos em planos antagônicos de vida, os que amamos a liberdade e aqueles que são capazes de encerrar, isolar, controlar horas de sol e formas de contato.

Ontem como hoje a busca por anarquia impressa em palavras sobre o papel tem sua potência de difusão e inspiração. Pânico para as autoridades de plantão que reagem com agressões assaltos e seqüestros.

Em 1969, no Rio de Janeiro, os militares destruíram e assaltaram o espaço de agitação dos anarquistas, o CEPJO (Centro de Estudos Professor José Oiticica), roubando ainda uma vasta biblioteca na residência do anarquista Ideal Perez. Além de roubarem os escritos originais do livro Nacionalismo e Cultura que estava por editar o anarquista Edgar Rodrigues, o qual para reavê-lo o comprou de volta dos repressores.

Em 1973 em Porto Alegre o DOPS (Departamento de Ordem Político e Social) chefiado pelo delegado Pedro Seelig invadiu a Gráfica Trevo, uma gráfica conduzida por anarquistas que, para além de impressões comerciais, imprimiam os jornais anarquistas que circulavam na época: O Protesto, vendido nas bancas de revistas de Porto Alegre e o jornal Dealbar, editado pelo anarquista Pedro Catalo, difundido em São Paulo. Também imprimiam livros editados por sua editora Proa. Nesta ocasião do assalto policial foram destruídos praticamente toda a impressão do livro O futuro pertence ao socialismo libertário e confiscado originais de futuras edições. Nesta tempestade casas particulares foram destroçadas e vidas foram sadicamente agredidas.

Malditos são nossos livros, jornais, escritos. Malditos somos os que tem a coragem e ousadia de escrevê-los, editá-los, traduzi-los, imprimi-los, difundi-los.

O Estado, a polícia, a democracia …

Não precisa de provas para perseguir anarquistas.

É sabido que nas perseguições a anarquistas não se precisam provas. Os livros foram o único fio que puderam segurar para apontarem a alguns que desde a agitação e propaganda incomodaram.

Sem provas mas não sem justificação, a reação do poder tem sua justificação sim. E essa justificação paradoxalmente é nosso maior sorriso. Saber que alguns bandos anárquicos bateram no poder só pode valorizar nossa posição já que manifesta antagonismo. Se nós nos chamamos anarquistas é porque não admitimos autoridade em nossas vidas nem na terra, assim o antagonismo à ordem imperante é um indicador básico de estar seguindo a trilha que dizemos seguir.

A Operação Érebo “procura dar com os autores dos ataques”, ou seja persegue ações mas parece ir atrás de ideias. Farejando literatura ácrata e pegando amostras das tendências, diversas, da anarquia. Confundindo a propaganda escrita com a propaganda pelo fato.

A propaganda escrita põe em evidencia algo que pareceria que queriam manter em segredo: que o poder pode apanhar dos anarquistas.

Temos claro que se se persegue as posições antiautoritárias é porque não se queimaram bancos, viatura e igrejas por piromania mas pela rejeição ativa e combativa à mercantilização da vida à punição e ao controle. E quando falamos disso não é em tom de denuncia mas como grito de alegria. É ai onde as ideias e afinidades “pesam”. Somos vários, todos, alvos na mira repressiva. Então na tormenta, no olho do furacão, ou flertamos com a passividade sistêmica nos maquiando de leis e direitos ou saímos mais fortes gritando que viva a anarquia contra toda forma de poder.

Luz câmera e ação. O show midiático.

A televisão tem uma força avassaladora no Brasil. É uma referência na vida das pessoas para entender seu entorno, criar prioridades, ter uma posição. Não é um exagero afirmar que a TV adestra as pessoas, manipula vidas, abertamente realiza experiências no comportamento das pessoas a partir dos estímulos que emitem suas ondas, em suas notícias propagandas e novelas.

Quando falamos da TV alinhamos junto seus jornais impressos, faces de um mesmo corpo, como: Zero Hora-RBS.TV/Globo7. Estes junto ao Correio do Povo e SBT8 protagonizaram associados licitamente à polícia a vingança do poder contra os anarquistas.

Se a TV é o controle à distância para os cidadãos saberem quem são os “novos inimigos da paz social”. Para os inimigos, ou seja para nós anarquistas, o show pretende ser o ventilador que espalha o medo. Cenas criadas toscamente como o encapuzado lendo a Cronologia ou os molotovs de garrafa pet e a polícia quebrando portas ao grito de “policia!”, querem mandar o recado da perseguição, querem provocar o medo em nosso bando e ainda em uma investigação que diz ser de sigilo, escracham e deixam em evidencia os “suspeitos”.

Trata-se de um linchamento midiático e certamente para quem não procura diálogo com a ordem social isso tem um peso. Abundam os comentários que se somando ao linchamento pedem fotos dos suspeitos ou reclamam por desvincular suas vidas de algo que uma vez retratado como o “mal” tem que ser banido e afastado para não poluir sua impecável vida cidadã.

Analistas políticos e juristas deram o toque ilustrado para espalhar o medo com “fundamentos”. Os anarquistas podem ou não serem julgados pela lei antiterrorista? Foi o debate apresentado por eles no show. Para além das úteis aulas que deram sobre o tema no Fantástico, mostraram que junto das forças repressivas os sábios da sociedade também colaboram com a criação do novo medo social. Não se trata mais de uma nota policial, agora é um tema social, jurídico, político, filosófico.

Os alcances desta confabulação podem ser maiores, o medo pode calar todo tipo de dissidência. Assim, o show serve para acalmar possíveis protestos e inconformismos com a genocida forma de governar da democracia.

Sabemos que os anarquistas e os povos fora da civilização e marginais tem um antagonismo que ficara depois do show. Mas, as outras dissidências se apressaram em se branquear como obedientes cidadãos? O medo penetrara até os ossos dos que se chamam rebeldes?

Entre nós não. Este texto assim como outras manifestações parecem afirmar o rechaço contra a dominação e não se deixar abater pelo medo.

O show vende e compra. Comprou a premissa no leilão policial da Operação Érebo. E vende. Sabemos que as notícias não são a toa, são jogadas pensadas no tabuleiro da dominação, visando fins específicos. É claro, eles nos dirão serem imparciais, portadores da justa visão dos fatos, da verdade.

Não existe mídia da livre expressão. A associação entre a mídia, polícia e justiça são profundas para punir todos que não dançam sua música.

Anarquistas.

Novembro de 2017.

**********

Nosso salve pra aquelxs que não deixaram passar o vento sem o sopro da solidariedade:

A aqueles seres que fizeram uma manifestação solidária na grande ilha do Pacifico

Axs compas que mandaram solidariedade desde o outro lado da cordilheira dos Andes.

A compa que mando a poesia para os perseguidos desde a rebelião das palavras

A todxs que não se mantiveram quietxs.

Todas essas ações se fizeram sentir.

1 Distanciamo-nos da ideia de que o poder é bom ou ruim dependendo de quem o exerce. Brindamos com Bakunin “Todo poder corrompe”.

2 Usamos a palavra antagonismo para expressar a incompatibilidade da anarquia com o poder e a dominação.

3 Palavras do delegado Jardim no jornal do almoço na manha do dia 25 de outubro de 2017, tentando definir os/as anarquistas investigados.

4 Tomamos a referência da posição contra a dominação de alguns dos comunicados que reivindicam os ataques que detonaram a Operação Érebo. O combate á dominação, segundo estas ações, não se trata de um antagonismo que priorize uma linha (classe, raça, gênero, defesa da terra), mas de um antagonismo em conflito com isso tudo e ainda mais, contra as sutis e complexas formas de controle e domínio.

5 As Cronologias da Confrontação Anárquica, são dois dos três livros que estão no foco da Operação Érebo.

6 Segundo as Cronologias da Confrontação Anárquica ações de ataque reivindicadas quanto não reivindicadas (conhecidas só pelas notícias) apresentam o princípio anárquico se agem em antagonismo com as instituições do controle e da dominação. Os partidos, neste caso, são os principais contendentes na procura de governar, controlar e mandar na população e no território.

7 A empresa Zero Hora-RBS.TV/Globo no processo instaurado contra o Bloco de Lutas nas agitações de 2013 dispôs até de repórter como testemunha de acusação.

8 Na manhã do dia 25/10/2017 somando-se ao show televisivo o repórter Thiago Zahreddine, da empresa SBT, apresentou a mistura aberrante dos anarquistas investigados como neonazistas, em suas palavras: “Se definem como vândalos de ideologia neonazista afim de enfrentar todo tipo de autoridade”. Tendo em conta a receptividade das pessoas ao que lhes diz a TV, essa aberração vai para além da estupidez do repórter.

México – Carta do companheiro Fernando Bárcenas

16, novembro, 2017 Sem comentários

via Contra Info

A todxs xs companheirxs rebeldes

Escrevo a todxs aquelxs que constroem os caminhos da sua autonomia, recordando que dentro destes muros tentamos arrebatar o nosso tempo vital à engrenagem, gerando momentos de lucidez num mundo asfixiante… é, pois, assim que durante estes anos têm sucessivamente surgido propostas de resistência – desde combates isolados em zonas esquecidas, gritos que se perdem na obscuridade, até momentos coletivos de organização informal, no cotidiano da vida em regime aberto, ou seja, na população geral, onde há quase três anos surgiu a ideia de criar um espaço distinto, onde os presos possam gritar que já basta de tanta aniquilação.

Sabemos que o sistema penitenciário está desenhado para a submissão dos nossos corpos e das nossas mentes à estrutura do comércio, e por isso não lhes vamos pedir que mudem, sabemos que o dinheiro é a linguagem dos poderosos e, por isso mesmo, não temos petições, agora queremos auto-gestionar a nossa vida dentro destes muros – sabendo-se que o que procuram os seus programas de readaptação social é tão só criar seres submissos, arrependidos, com culpa e que, portanto, aceitam o trabalho escravo às mãos dos funcionários da prisão.

Foi assim que surgiu, por fim, a ideia de fundar uma biblioteca alternativa, no auditório do reclusório norte. Mas, para que cresça este projeto de autonomia e que se permita se permita o seu funcionamento, necessitamos do seu apoio e solidariedade – pois no interior da prisão somos reprimidos de modo mais eficaz – sendo isto uma chamada à todxs aquelxs que se sabem em guerra, necessitamos de vocês, só convosco podemos lograr ter a força para enfrentar a lógica putrefata do sistema…

Não nos deixem sós na construção de mais um espaço para a autonomia, a nossa luta não é menos importante, nós também somos escravos, filhos de uma guerra, somos pobres, chamados de delinquentes e por isso nos marginalizam, mas junto a vós demonstraremos que somos capazes de viver a liberdade aqui e agora, ainda que estejamos entre muros de pedra…

É por isso que pedimos apoio para manter este projeto, a biblioteca autônoma no reclusório norte.

Com amor e força para todxs
Fernando Bárcenas
(10/10/17)

E-mail: cna.mex@gmail.com

Berlim, Alemanha – Mensagem dxs companheirxs da Rua Rigaer ao Festival da Insurreição em Atenas

10, novembro, 2017 Sem comentários

via Insurrection News

Eles chamam de "Zona de Perigo" - mas é apenas um bairro ingovernável!*

Eles chamam de “Zona de Perigo” – mas é apenas um bairro ingovernável!*

Saudações de Berlim a Atenas

Nós, indivíduxs e grupos da Rua Rigaer, recebemos a iniciativa, iniciamos uma discussão sobre uma insurreição e a preenchemos com experiências do passado, teorias atuais e possibilidades práticas. Foi assim que entendemos o chamado para o Festival da Insurreição em Atenas.

No programa, descobrimos vários aspectos, em que nós na Friedrichshain Nordkiez estamos envolvidxs. Não há movimento anarquista, anti-autoritário ou movimento radical de esquerda em Berlim, há apenas uma cena. A apatia da maioria de uma sociedade fascista torna complicado se mover. Para destruir estruturas de poder globais, precisamos encontrar o confronto em nossas comunidades locais. A concentração de pessoas, idéias e estruturas que trabalham contra o Estado são necessárias para se proteger de agressões externas e poder se desenvolver.

Ao longo dos últimos anos, devido à intensidade de nossas ações e à repressão policial, esse processo foi iniciado na rua Rigaer. Nossas ações não se concentram simplesmente na violência material, eles estão tentando destruir a normas e os valores sociais. Nesse sentido, mudar o significado de propriedade, segurança e medo, bem como o trabalho e a concorrência.
Em Berlim, é proibido organizar um mercado livre, onde tudo possa ser entregue de graça, é proibido tocar música em espaços públicos ou simplesmente se reunir na rua com muitas pessoas. Pode ser permitido se alguém solicitar autorização à polícia. Fizemos todas essas coisas sem ter permissão e toda vez que fizemos, a polícia veio e nos atacou. Como resposta, muitas pedras foram jogadas em direção aos policiais e seus carros.
Talvez a ocupação policial em Exarcheia seja mais violenta, mas em Friedrichshain eles estão mais próximos – a força de ocupação está esperando na sua porta.

Outra forma de contrainsurgência preventiva em Berlim é, ao lado da repressão, a integração. Ao usar vários políticos e “bons” policiais, as administrações estão sempre apresentando mesas redondas. A idéia é levar xs habitantes do Friedrichshainer Nordkiez junto com representantes dos escritórios da administração, de modo que uma imagem pode ser criada em que os políticos escutem as preocupações do público e todas as partes envolvidas elaboram uma solução. Deste modo, não há mais necessidade de resistência real, e a “paz social” pode ser restaurada. Devemos combater a integração, como lutamos contra a repressão.

Devido à gentrificação, a população em nossa parte da cidade, está sendo lentamente substituída. Se você não tem o dinheiro, não pode mais pagar o aluguel, você deve se mudar. É por isso que muitos carros de luxo e novos investidores estão sendo atacados em nossos bairros. Perguntas controversas em nossos círculos são, por exemplo, a relação com xs vizinhxs. Algumas pessoas são simpatizantes conosco e odeiam os policiais. Mas como interagimos com aqueles que não querem ter qualquer posição nesse conflito ou quem apenas quer continuar vivendo sua vida capitalista sem quaisquer distúrbios?

Somos apenas algumxs nesta cidade, muito poucxs. Quando o Estado nos ataca, como no ano passado, quando os policiais invadiram a Rigaer #94 duas vezes e uma vez ocuparam a casa por mais de três semanas, enquanto destruíam grandes partes disso, tornou-se possível mobilizar muitas pessoas de fora de nossos círculos. Durante semanas durante o verão de 2016, carros em toda a cidade estavam queimando e durante uma manifestação maior, muitas pessoas atacaram os policiais. Mas uma insurreição não pode ser planejada, ela surge das tensões sociais, onde tendências radicais estão integradas em uma maior resistência social. Outra questão seria se devêssemos procurar pessoas nesta sociedade individualizada e alienada ou se seria melhor apenas colocar uma utopia lá fora, que fala por si mesmo?

No dia 16 de junho deste ano, uma utopia foi um show de hip hop nas ruas. Como esperado, os policiais logo atacaram e geraram protestos, que só valeriam uma pequena nota em Atenas, mas se tornaram uma história principal em Berlim. A imprensa e os políticos compararam a rua Rigaer com a guerra na Síria. Devemos escalar ainda mais a situação, apesar de sermos poucas pessoas?

O movimento autônomo foi alimentado na década de 80 pela difícil situação habitacional e as muitas okupas, que existiam em toda a cidade. As experiências desde então, nos mostram que assim que damos um passo para trás, o inimigo se move logo atrás de nós. Nos casos em que xs okupas negociaram com o estado, elxs sempre perderam. Nos casos em que não negociamos, também podemos ter perdido, mas lutando ganhamos novos ativistas para nossas estruturas.

Como um ponto de partida realista, estamos tentando fazer que uma parte da cidade seja impossível de controlar, um processo que deve ser expandido cronologicamente e espacialmente. Talvez os policiais atinjam nossos espaços em Friedrichshain novamente no futuro próximo. Então, pediremos ajuda, ao atacar a autoridade, não importa onde você esteja. Assim como nós em Berlim estamos tentando reagir às operações organizadas pelo Estado contra a resistência em Atenas e em outros lugares.

Companheirxs e Amigxs da Rigaer #94 e a Resistência em Friedrichshain

*a polícia usa o rótulo de ‘Zona de Perigo’ para uma espécie de lei marcial que lhes permite parar e investigar pessoas sem motivo e entrar em casas sem mandados e confiscar tudo.

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Porto Alegre, Brasil – Comunicado da Biblioteca Kaos diante da perseguição contra anarquistas

2, novembro, 2017 Sem comentários

via Tormentas de Fogo

Quando a anarquia incomoda
Comunicado da Biblioteca Kaos diante da perseguição contra anarquistas

Há muitas coisas para falar, mas iremos pelo mais urgente. O 25 de outubro começou uma perseguição anti-anarquista contra a FAG [Federação Anarquista Gaúcha], o Parhesia, a ocupação Pandorga e algumas individualidades que tiveram espaços e moradias invadidas pela polícia. Se não toda, provavelmente uma boa parte da diversidade anarquista foi atingida e várixs deles se pronunciaram desde suas concordâncias, com firmeza, diante da repressão. E isso é vento fresco que fortalece a todo aquele que se sinta em sedição.

Fica evidente que a mira dos agentes da repressão também aponta contra nós, contra as publicações que fizemos ou nas quais participamos. E é sobre isso que vamos a nos pronunciar. A cronologia da Confrontação Anárquica, tanto aquela que recolhe informação desde o 2000 até o 2015, quanto aquela que recolhe o acionar anárquico do 2016, são os livros que estão exibindo como “provas” de vandalismo, ataques, e atos criminosos. Dentre as múltiplas formas de procurar a liberdade que tem o anarquismo, esses livros falam da informalidade anárquica como um opção de acordo com o rosto da dominação atual. Ainda mais, esclarecemos que estes livros falam de ações que não são anarquistas só. O foco dos livros é a difusão de ações anárquicas. Para ser mais precisos, se difundem ações nas quais nós sentimos o aroma da anarquia. E entre o anarquismo e a anarquia há diferenças que podem ser delicadas mas que são importantes.

O instinto anárquico é aquele impulso anti-dominação que pode estar presente em qualquer individualidade ou coletividade, para além dos pertencimentos ideológicos e militâncias políticas. É por isso que nas cronologias incluímos conflitos das populações não ocidentais, a conflitividade nas ruas dentro de protestos mais abrangentes e motivações diversas, ações contra o Estado e o Capital e muito mais. Longe de ir pela teoria, esclarecemos isto já que a perseguição contra os anarquistas não toma em conta estas diferenças procurando achar um bode expiatório para múltiplos eventos que incomodaram aos policias e aos poderosos de sempre.

Surpreende que a polícia, o Delegado Jardim, e a mídia mostram como a grande novidade, fatos que já foram manchete no seu momento e já foram pesquisados pela polícia também, só pelo fato de estarem condensadas em nossas publicações. Nenhum dos livros é uma reivindicação. São livros de uma memória anárquica, com ações e conflitos muito anteriores à existência da Biblioteca Kaos e que com certeza irão continuar para além de nós. A publicação mostra, com alegria e de cabeça erguida sim, a existência de um confronto anárquico que dá resposta à dominação, à devastação da terra e ao ataque contra toda forma de liberdade, mas não reivindica a autoria desses fatos que podem ser colhidos, tal como nós fizemos de várias páginas de internet e jornais locais. E se fizemos essas publicações sabendo do risco que elas apresentavam é porque a insubmissão merece ser defendida, uivada, festejada e gritada por todos os meios possíveis. Jamais acreditaremos nem respeitaremos a obediência que pretendem impor, a submissão e o medo que querem inocular nas pessoas desde que nascem.

Para além disso tudo. As ações que estão nas cronologias são ações de ataque contra a materialidade da dominação. Ou seja contra prédios, carros, máquinas, estradas, vidraças. Coisas. Objetos. Símbolos. A polícia do território controlado pelo estado brasileiro é internacionalmente famosa por ser uma polícia assassina. As operações de pacificação, são chacinas, autênticos massacres, como a da Candelária e a do Carandiru, assim como o assassinato pelas costas de Eltom Brum que até teve uma torcida policial recebendo o assassino. E são eles quem vem a falar de terror, de quadrilhas do mal, de tentativa de homicídio? Mostram um estilingue e tijolos ecológicos como armas, enquanto eles estão de pistola na mão. Falam de terrorismo e quadrilhas do mal enquanto preparam a seguinte invasão contra uma vila ou favela, onde os mortos nem serão mencionados pela mídia. Assim, insignificantes são para eles. Gostaríamos de acreditar que todos se sentem insultados com as provas do Delegado Jardim. Num contexto onde as armas são corriqueiras, tijolos ecológicos apresentados como explosivos é um insulto para qualquer um. Porém, não esquecemos do uso policial do pinho sol como arma (prova) contra Rafael Braga a quem sequestraram até ele pegar tuberculose, ou seja, até sentir que fizeram de tudo para matá-lo.

As repressões contra os anarquistas mostram duas coisas. A primeira que apresentar “terroristas” na tela serve como show para tirar os holofotes dos problemas como a corrupção, o descrédito político-policial e o genocídio devagar mediante reformas econômicas. Que agora tentem resolver fatos do 2013 e persigam um livro e literatura, mostra claramente um uso midiático e espetacular que pretende esconder o crescente ataque contra a população, despolitizar mediante ameaças e espalhar o medo até de ler (práticas evidentemente democráticas).

A segunda coisa que apresenta uma perseguição anti-anarquista é que a anarquia incomoda. Quando falamos da anarquia que incomoda, claramente, não estamos falando de meninos e meninas bem comportados agindo dentro das margens impostas pelo poder, não falamos de pessoas que tem as leis no seus corpos e corações lhes desenhando seus limites de ação. Quando falamos da anarquia que incomoda falamos de uma insubmissão tão forte de pessoas e grupos que tem sido capazes de interromper a normalidade da praça dos poderes, de paralisar a cidade, de quebrar os símbolos da militarização no Haiti, de queimar os veículos que sequestram, e matam arrastando como cavalos da inquisição (Claudia não esquecemos da sua morte).

Os livros da Biblioteca Kaos difundem essa anarquia. A que incomoda. Aquela que responde o embate do agronegócio, da civilização colonizante, da militarização, do ecocídio, da sociedade carcerária… Em palavras mais simples, enquanto a dominação tenta destruir o planeta e todos que eles acham indesejáveis, nós difundimos o que ataca a dominação.

E quando a anarquia incomoda, a reação dos poderosos ameaça e quer farejar o medo. A resposta anarquista e anárquica contra essa perseguição ficará nos nossos corações e ações. O como enfrentamos esta encruzilhada marcará o momento de nosso passo pela trilha da vida em rebeldia.

Força e solidariedade com xs perseguidxs pela operação Érebo.

Biblioteca Anárquica Kaos
Outubro de 2017

São Paulo, Brasil – Sobre pluralismo, tolerância e monitoramentos: em marcha a perseguição aos anarquistas

31, outubro, 2017 Sem comentários

Em 2009, sob o governo estadual de Yeda Crusius (PSDB), a sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), foi invadida pela polícia que roubou livros, computadores e material de propaganda. Na mesma época um professor anarquista foi executado e fez-se pensar que havia sido um suicídio (nusol.org/agora/agendanota.php?idAgenda=310).

Em 2013, em duas ocasiões (junho e outubro) novamente a sede da FAG e a casa de um de seus militantes foi invadida, desta vez sob o governo Tarso Genro (PT), que declarou se tratar de “grupos criminosos com financiamento internacional” (nu-sol.org/flecheira/pdf/flecheira300.pdf).

Não coincidentemente, na mesma época, na cidade do Rio de Janeiro, a “intelectual orgânica” do mesmo partido do governador pontificou do alto de sua autoridade de filósofa do Estado, para uma plateia de policiais militares, que os black blocs presentes em manifestações de rua eram fascistas.

Nas democracias liberais, os anarquistas são insuportáveis para o pluralismo governamental, pois não esperam nem praticam a tolerância e são alvo dos monitoramentos que regularmente acionam as forças de polícia repressiva.

Desta vez, na madrugada de 26 de outubro de 2017, iniciou-se uma investigação da polícia civil chefiada por um delegado definido como especialista em crimes de intolerância, deflagrada com mandatos de busca e apreensão nas cidades de Viamão, Novo Hamburgo e Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul.

Os mandatos levaram a invasão da antiga sede da FAG (onde funcionava o Ateneu Batalha da Várzea), da Ocupação Pandorga, da sede do Coletivo Parrhesia e de várias casas de militantes.

A polícia declara que são 30 investigados, sendo 15 deles colegas estudantes de pós-graduação em antropologia da UFRGS, alguns estrangeiros, mas não divulga os nomes.

Na operação a polícia roubou livros (que constavam no mandato como material perigoso), computadores, celulares, material serigráfico para confecção de camisetas, faixas de manifestações e garrafas pet com material de reciclagem utilizadas como tijolos para bioconstrução.

A feira de livros anarquistas que ocorreria em Porto Alegre, neste fim de semana, foi cancelada por decisão dos próprios organizadores do encontro. Esta foi a forma de protesto encontrada por eles diante de mais um ataque abjeto da polícia do Estado.

Desta vez no interior desta escabrosa “Operação Ébero” — na mitologia grega, o filho do Caos —, forjam acusações contra os militantes e cometem o descalabro tacanho e burro de vincular anarquistas com fascistas e nazistas, etc… Este tipo de vinculação não é de espantar, é inerente à polícia e ao Estado que toma a sua própria estupidez por inteligência.

Não basta dizer que “protestar não é crime”, pois isto nada mais é do que a velha batida que, dependendo da ocasião, tanto respalda o pluralismo que tolera até mesmo um fascista, como não titubeia em tentar destruir anarquistas e pretende distinguir o “preso comum” do “preso político”. Ledo engano.

Todo preso é um preso político! E qualquer anarquista não deve ignorar isto. Da mesma maneira é preciso estar atento para o fato de não haver “fatos criminosos”, pois o crime não passa de conduta considerada inaceitável para uma determinada ordem, num momento específico.

O crime é apenas uma construção moral e política que interessa ao Estado, ao capitalismo, aos proprietários e a todos que cultivam o apreço pelas penalizações, juízos e castigos. Todos, também, que posam de avançadinhos e coleguinhas de ocasião de pessoas ou grupos que lhes convêm, mas, não suportam anarquistas e pretendem em vão riscá-los do mapa. São os cidadãos-polícia que censuram, atacam e pretendem obstruir práticas de liberdade.

Não surpreende que as democracias liberais, por meio de suas autoridades policiais gerais associem anarquismo à intolerância. Os anarquistas situam o insuportável, enquanto eles, pretendem determinar o governo do justo meio. Do justo que define a liberdade como um universal que nada mais é que sua particular segurança.

Não surpreende que, em plena democracia, repetem-se as violências do Estado amparadas pela Lei de Segurança Nacional, conduzidas pelas forças armadas durante a ditadura civil-militar contra a existência de espaços anarquistas. No final dos anos 1960, somada a prisão de jovens pertencentes ao Movimento Estudantil Libertário (M.E.L), é conhecido o arrombamento pela polícia de sedes de associações libertárias e o sequestro de materiais “explosivos” como livros, mimeógrafos, ventiladores, fichários, estatutos, alvarás de funcionamento, fotos de piqueniques.

Também não surpreende que a sua mídia retome a histórica associação entre anarquia e caos, violência e vandalismo, requentada, à esquerda e à direita, desde as revoltas de junho de 2013.

É inadmissível que a brutalidade do Estado e a ignorância rocambolesca da mídia ataque espaços, associações e militantes libertários.

Essas operações desgovernadas alimentam o espetáculo da catástrofe em redes sociais e televisões, e pode destruir a vida de pessoas. Alguém ainda se importa em saber como estão os 23 encarcerados em Bangu, no Rio de Janeiro, durante a Copa do Mundo de Futebol de 2014? Fala-se em contenção de ações violentas, mas quem questiona o imensurável aparato de espionagem e repressão construído pelo Estado e suas polícias não só por ocasião dos megaeventos?

Com golpe ou sem golpe, com governos mais ou menos à esquerda ou à direita, a perseguição aos anarquistas relacionados aos chamados crimes de ocasião e falsos testemunhos prossegue! Pelas polícias de Estado e pela cidadania policial que se espraia nas ruas, em universidades, empresas e locais públicos.

Os anarquistas são muitos, assim como são muitas as práticas dos anarquismos, pelas quais se convive muito bem com as diferenças e as divergências em práticas de liberdade.

Anarquistas não são pluralistas! Tampouco tolerantes, porque não são cabotinos e sabem que só há tolerância com o inferior que se dispõe a prosseguir sujeitado.

Não admitimos que toquem em nossos companheiros, que saqueiem nossas associações, que interceptem nosso trabalho que, por vezes, é silencioso e paciente, mas que está pronto para o escândalo quando ameaçado.

Chamam-nos de monstros, vândalos, infantis, violentos, e variadas desqualificações. Pouco importa, porque classificados como anarquistas, somos, mais uma vez, os desclassificados.

Porém, não existimos por autorizações, somos inclassificáveis!

Tirem suas mãos imundas de sangue dos 30 perseguidos no Rio Grande do Sul.

Nosso repúdio à “Operação Ébero” é total e irrestrito! Quem gosta de investigações, tribunais e prisões que soçobrem com elas!

Nós somos a favor da vida livre!

Interrompam imediatamente essa investigação absurda!

Ninguém é inocente!

Viva a anarquia!

Saúde!

NU-SOL (Núcleo de Sociabilidade Libertária) PUC-SP

São Paulo, 29 de outubro de 2017.

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