Berlim, Alemanha – Mensagem dxs companheirxs da Rua Rigaer ao Festival da Insurreição em Atenas
Saudações de Berlim a Atenas
Nós, indivíduxs e grupos da Rua Rigaer, recebemos a iniciativa, iniciamos uma discussão sobre uma insurreição e a preenchemos com experiências do passado, teorias atuais e possibilidades práticas. Foi assim que entendemos o chamado para o Festival da Insurreição em Atenas.
No programa, descobrimos vários aspectos, em que nós na Friedrichshain Nordkiez estamos envolvidxs. Não há movimento anarquista, anti-autoritário ou movimento radical de esquerda em Berlim, há apenas uma cena. A apatia da maioria de uma sociedade fascista torna complicado se mover. Para destruir estruturas de poder globais, precisamos encontrar o confronto em nossas comunidades locais. A concentração de pessoas, idéias e estruturas que trabalham contra o Estado são necessárias para se proteger de agressões externas e poder se desenvolver.
Ao longo dos últimos anos, devido à intensidade de nossas ações e à repressão policial, esse processo foi iniciado na rua Rigaer. Nossas ações não se concentram simplesmente na violência material, eles estão tentando destruir a normas e os valores sociais. Nesse sentido, mudar o significado de propriedade, segurança e medo, bem como o trabalho e a concorrência.
Em Berlim, é proibido organizar um mercado livre, onde tudo possa ser entregue de graça, é proibido tocar música em espaços públicos ou simplesmente se reunir na rua com muitas pessoas. Pode ser permitido se alguém solicitar autorização à polícia. Fizemos todas essas coisas sem ter permissão e toda vez que fizemos, a polícia veio e nos atacou. Como resposta, muitas pedras foram jogadas em direção aos policiais e seus carros.
Talvez a ocupação policial em Exarcheia seja mais violenta, mas em Friedrichshain eles estão mais próximos – a força de ocupação está esperando na sua porta.
Outra forma de contrainsurgência preventiva em Berlim é, ao lado da repressão, a integração. Ao usar vários políticos e “bons” policiais, as administrações estão sempre apresentando mesas redondas. A idéia é levar xs habitantes do Friedrichshainer Nordkiez junto com representantes dos escritórios da administração, de modo que uma imagem pode ser criada em que os políticos escutem as preocupações do público e todas as partes envolvidas elaboram uma solução. Deste modo, não há mais necessidade de resistência real, e a “paz social” pode ser restaurada. Devemos combater a integração, como lutamos contra a repressão.
Devido à gentrificação, a população em nossa parte da cidade, está sendo lentamente substituída. Se você não tem o dinheiro, não pode mais pagar o aluguel, você deve se mudar. É por isso que muitos carros de luxo e novos investidores estão sendo atacados em nossos bairros. Perguntas controversas em nossos círculos são, por exemplo, a relação com xs vizinhxs. Algumas pessoas são simpatizantes conosco e odeiam os policiais. Mas como interagimos com aqueles que não querem ter qualquer posição nesse conflito ou quem apenas quer continuar vivendo sua vida capitalista sem quaisquer distúrbios?
Somos apenas algumxs nesta cidade, muito poucxs. Quando o Estado nos ataca, como no ano passado, quando os policiais invadiram a Rigaer #94 duas vezes e uma vez ocuparam a casa por mais de três semanas, enquanto destruíam grandes partes disso, tornou-se possível mobilizar muitas pessoas de fora de nossos círculos. Durante semanas durante o verão de 2016, carros em toda a cidade estavam queimando e durante uma manifestação maior, muitas pessoas atacaram os policiais. Mas uma insurreição não pode ser planejada, ela surge das tensões sociais, onde tendências radicais estão integradas em uma maior resistência social. Outra questão seria se devêssemos procurar pessoas nesta sociedade individualizada e alienada ou se seria melhor apenas colocar uma utopia lá fora, que fala por si mesmo?
No dia 16 de junho deste ano, uma utopia foi um show de hip hop nas ruas. Como esperado, os policiais logo atacaram e geraram protestos, que só valeriam uma pequena nota em Atenas, mas se tornaram uma história principal em Berlim. A imprensa e os políticos compararam a rua Rigaer com a guerra na Síria. Devemos escalar ainda mais a situação, apesar de sermos poucas pessoas?
O movimento autônomo foi alimentado na década de 80 pela difícil situação habitacional e as muitas okupas, que existiam em toda a cidade. As experiências desde então, nos mostram que assim que damos um passo para trás, o inimigo se move logo atrás de nós. Nos casos em que xs okupas negociaram com o estado, elxs sempre perderam. Nos casos em que não negociamos, também podemos ter perdido, mas lutando ganhamos novos ativistas para nossas estruturas.
Como um ponto de partida realista, estamos tentando fazer que uma parte da cidade seja impossível de controlar, um processo que deve ser expandido cronologicamente e espacialmente. Talvez os policiais atinjam nossos espaços em Friedrichshain novamente no futuro próximo. Então, pediremos ajuda, ao atacar a autoridade, não importa onde você esteja. Assim como nós em Berlim estamos tentando reagir às operações organizadas pelo Estado contra a resistência em Atenas e em outros lugares.
Companheirxs e Amigxs da Rigaer #94 e a Resistência em Friedrichshain
*a polícia usa o rótulo de ‘Zona de Perigo’ para uma espécie de lei marcial que lhes permite parar e investigar pessoas sem motivo e entrar em casas sem mandados e confiscar tudo.